quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Compondo Com Renata Castillo

Muita gente me pergunta de onde eu tiro as minhas idéias pra compor músicas. Eu não sei explicar ao certo, mas aprendi, com o tempo (pois não sou nenhuma profissional), o que deve ser levado em conta quando o negócio é compor para os outros ouvirem.
A Intensidade

Vou começar pela minha teoria da intensidade. Não, não estou falando de Física (cruz-credo, bate três vezes na madeira!) e sim de uma sensação extrema, inexplicável e única – a intensidade da música. Meu conceito de “música fantástica” nasceu dessa teoria.
Pra mim, uma música fantástica só pode ser classificada como o tal se lograr do poder de transportar o ouvinte para uma dimensão diferente de emoções – que variam desde flashback até arrepios na espinha. Não sei exatamente o que causa isso, mas tenho certeza que existe uma fórmula exata, na qual uma determinada batida; casada com um determinado arranjo e uma melodia perfeita, fazem o trabalho.
Toda vez que eu coloco alguma coisa no papel (e nas mãos) eu penso – “será que está tão intenso quanto eu preciso que esteja?” ou “será que eu passei a mensagem na intensidade adequada?”
Quer compor? Comece pela intensidade, não há erro.

Aqui está uma lista de músicas que eu considero que contenham uma certa intensidade apropriada:

- “The Heart Of The Matter” – do Eagles, mas na versão da India Arie
- “Autumn’s Monologue” – do From Autumn to Ashes
- “You” – do compositor de música eletrônica, Schiller, em parceira com Colbie Caillat
- “Let Me Sign” – de Robert Pattinson, da trilha de Crepúsculo
- “Now We Are Free” – de Hans Zimmer, da trilha de Gladiador
- “A Thousand Oceans” – de Tori Amos
- “Moondance” – versão de Michael Bublé
- “Where Are You Going” – Dave Mattews Band
- “Gravity” – John Mayer
- “So Beautiful” – Peter Murray

E por aí vai…

A Mensagem

Você não precisa ser William Sheakespeare para escrever versos absurdamente fantásticos. Na verdade, é bom até não ser um Sheakespeare – aí a mensagem é expressa de uma maneira que a compreensão torna-se mais fácil.

Uma das ferramentas que eu pessoalmente gosto de usar nas letras são os sentidos. Afinal, se você descrever uma determinada situação na sua estrofe com o auxílio de alguns elementos sensoriais (como por exemplo, gosto e cheiro) fica mais fácil de cumprir a tarefa de “transporte” do ouvinte e, como muitas vezes acontece, até o intérprete é transportado. Eu adoro canções com esse tipo de coisa. Por exemplo, a música “So Beautiful” de Peter Murray, já mencionada, tem dois versos que eu acho simplesmente muito bem colocado:

“God, my fingers burn,
Now, when I think of touching your hair”
(Deus, meus dedos queimam
Agora, só de pensar em tocar os seus cabelos)

Esses versos passam a sensação exata do que o Eu Lírico sente ao tocar os cabelos da pessoa desejada. É como se nossos dedos queimassem também.

Outra coisa que me chamou atenção esses dias são as canções que pussem letras que contam algum tipo de história como se nós, ouvintes, já soubéssemos do contexto. Por exemplo, “Let Me Sign”, de Pattinson:

“Standing by a broken tree
Her hands are all twisted
She's pointing at me
I was damned by light coming
Over I see
She spoke with a voice that
Disrupted the sky
She said walk on over here it's a bit of shade
I will wrap you in my arms
And she say
Let me sign
Let me sign”

(Em pé ao lado de uma árvore quebrada
Suas mãos estão torcidas
Ela está apontando para mim
Eu fui condenado pela luz que está vindo
Por cima eu vejo
Ela falou com uma voz que
Rompeu o céu
Ela disse “venha aqui que há um pouco de sombra,
Eu te envolverei nos meu braços”
E ela disse
“Deixe-me marcar,
“Deixe-me marcar")

O contexto geral não fora explicado, mas a canção por si exprime a idéia principal, que é o fato do Eu Lírico convencer-se de sua condenação aparente e a figura feminina salvá-lo de alguma forma.

Uma característica dessa canção é a direção que ela toma, que por mais simples que seja (a canção tem apenas os versos acima), tem frases fortes como “romper o céu”, “envolver nos braços”; que fazem uma diferença enorme quando se vêm a cantá-la. Agora, colocando isso em prática, vou dar um exemplo:

Comprei um pássaro
Ele cantava músicas legais

Quis comprar outro igual
Para presentear minha mãe

Fazendo um twist nesse verso tosco, com todos argumentos que eu apresentei, ficaria assim:

Com as últimas moedas do bolso, comprei o pássaro cor-de-fogo.
Moedas geladas, assim como o inverno nas maçãs do meu rosto.
Ouve-se o entoar de um cântico legendário,
Que fluía dos pulmões daquele pássaro como as labaredas dançantes da lareira.
Com este presente que me alegrei e para minha mãe concederei

Como memória de seu amor por mim.

Entendeu? Coloque em prática. Isso mudou a minha vida e a vida dos que me escutam também.


Sobre Arranjos e Relacionados

Não gosto de falar sobre arranjos, principalmente porque estamos num país livre e existe uma coisa chamada música contemporânea, onde a regra é a exceção.

Sejamos honestos com nós mesmos – quem não gosta de solar? Solar é muito bom, mas também tem que ser dosado, principalmente se o tipo de público não tem afinidade alguma com instrumentais. Não estou falando para você, de repente, encurtar o seu solo de piano em “It Don’t Mean a Thing (If It Ain't Got That Swing)”, porque seria loucura. Eu digo, se você estiver tocando alguma coisa para ouvidos populares, seja bonzinho – quase ninguém tem o ouviu e a capacidade de apreciação para determinados estilos como você tem.

Eu peço, apenas, que você não estrague uma música sua com um arranjo porcaria. Você pode ter a letra perfeita, mas se não tiver o arranjo perfeito, diga adeus à tão sonhada intensidade. Pronto, não quero mais falar sobre arranjos.


De Ouvidos Bem Abertos

Por fim, gostaria de salientar uma das piores coisas dos músicos de plantão – acostumar com um estilo só. Ou seja, área de conforto musical.

Eu sou uma pessoa que só gostava de metal, isso uns 5 anos atrás. Tudo o que eu escrevia na época acabava ficando meio igual, porque não tem muito o que inovar quando o estilo é sempre o mesmo!

O que é muito procurado – e bem pago – hoje em dia é o diferencial de cada músico e manter seus ouvidos bem abertos vai ajudar a desenvolver esse diferencial. Por exemplo, imagine dois compositores de música pop (daquelas de rádio mesmo). Um escuta vários outros estilos, enquanto o outro escuta a rádio onde as músicas dele tocam. Qual que vai se desenvolver mais? Lógico que o primeiro, que escuta vários estilo e até inconscientemente passa a incorporar essas influências nas suas músicas, o que sempre é visto como legal – vide Madonna, que ta sempre inovando – e bem aceito pelo público.

Seja diferente. Isso se aplica também para o pessoal que canta. Uma dica? Se alguém falar que a sua voz não é feita para determinado estilo, tente cantar esse estilo (com exceção de ópera, musica indiana e belting ahaha); e você acabará desenvolvendo um estilo próprio.

E lembre-se: não existe restrição na temática de composição – escreva o que você quiser, inspire-se com o que você puder. Mas antes de sermos compositores, somos poetas, então pense para quem você está escrevendo; assim você saberá como escrever para passar a mensagem e garantir a intensidade de maneira instantânea.

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Acredito que eu consegui passar o recado - ufa!

Vou aproveitar e me auto-promover: www.myspace.com/RENATADISE - algumas músicas minhas, enjoy!

Um beijo =*

Um comentário:

Anônimo disse...

Além de cantar, tocar e compor, você ainda consegue escrever sobre tudo isso, e de forma fantástica. Amei o post! Arrebentou! :D

E você ainda será descoberta por um mega produtor e vai ficar famosa e metida! Hahaha

Bjo!